quinta-feira, 19 de março de 2015

a pronúncia estranha dos lisboetas

Os lisboetas têm uma pronúncia muito estranha, não acha?
Que não, até porque sou lisboeta.
Mas sim sim. O senhor nem se nota muito. Talvez seja de andar de um lado para  outro. Mas os lisboetas mal se consegue perceber o que dizem.
E sabe outra coisa estranha dos lisboetas? Eles comem as natas à colher!
Natas?
Natas pois. Vocês chamam-lhes bolos de Belém, não é?
Não. Chamamos-lhes pastéis de nata. Pastéis de Belém são uma especialidade refinada do bolo.
E isso da colher não é bem assim. Uns usam a colher, mas a maioria acho que não. Eu não uso.
São mesmo estranhos, os lisboetas, lá insistiu a jovem.

Aconteceu ontem de manhã, à porta de um hipermercado, na Maia, Grande Porto. A miúda teria uns 23 a 24 anos e esperávamos pela abertura do lugar.
Surgiu um pergunta fortuita qualquer e lá começámos à conversa.
Só tinha vindo duas vezes a Lisboa, a primeira numa excursão da escola e as duas vezes sem ter pernoitado.
Ou seja, aos 23 anos o conhecimento da grande cidade deste país resume-se a umas poucas horas. O suficiente para concluir pela estranheza do seu linguajar.
Mas que conhecia muito bem a Galiza e até as Baleares.
Somos mesmo estranhos, os portugueses, digo agora eu.


quarta-feira, 11 de março de 2015

Notícias do senhor M

O senhor M tem hoje teste de Matemática.
Ontem à noite, confrontado com a necessidade de estudar para a coisa, o senhor M lá fez as suas exigências:
"Se querem que eu estude têm de escrever no papel contas tipo 2+2 igual a quantos e isso assim!"
"Que isso não chega", "essas contas eram para quando estavas no jardim de infância" e outros argumentos no género foram esgrimidos pelos mais crescidos da casa, tentando incentivar o senhor para as exigências da sua já adiantada idade.
Contrariado e muito vocal, lá foi resolvendo os problemas.
Esta manhã quisemos retomar a preparação, já no carro e a caminho da escola. Á primeira pergunta, o senhor M lá sentenciou: "esta é a única conta a que vou responder".
Lá acertou e por isso levou a melhor.
Não pude deixar de notar uma certa vocação de político ou até de jurista nesta sentença do senhor M.

um "gamanço" é um "gamanço"


terça-feira, 3 de março de 2015

Altruísmo (comercial) em Coimbra


Neste mês de saída do Inverno, a noite em Coimbra tem ainda poucos restaurantes abertos à noite. Mas os que abrem parece serem os melhores.
Por sensata sugestão amiga, tentei o "Zé Manel dos Ossos", mas a fila de espera era grande e os preços também podiam ser menores. Fica para a próxima.
Recorri depois ao meu porto seguro em Coimbra, os restaurantes da Praça do Comércio, onde invariavelmente degusto uma excitante chanfana de cabra.
Mas ontem a noite era feita a dois e alguma sisudez denotada no rosto do comparsa do momento levou-me a pedir conselho ao dono do restaurante da chanfana.
E então foi o festival, com o homem a perorar sobre uns 10 restaurantes que, ali bem perto, seriam então melhor opção que o seu próprio.
Um porque seria mais barato, outro mais típico, outro mais amplo, outro ainda porque era visitado por muitos turistas, o que significaria fama internacional, e por aí fora.
Não se lembrou o cavalheiro de nos recordar uma só qualidade em que a sua casa se pudesse destacar.
A isto chamo eu de altruísmo comercial. Ou será pura parvoíce?
O facto é que lá segui o seu conselho e lá encontrei a chanfana feita à moda da serra e também de fino calibre, na Adega do Paço do Conde, desde já uma nova e muito competitiva referência gastronómica em Coimbra. Por uns 3 euros a menos, coisa com a sua importância nos magriços tempos que vivemos.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Serviço informativo

O Zé (chamemos-lhe assim), é o arrumador actualmente de serviço no parque de estacionamento junto ao Metro, em Odivelas. Mal vestido, com um gorro às riscas coloridas, aspecto pouco agradável, compensa estes atributos com um sorriso que deixa antever dois dentes perdidos numa imensa e lisa gengiva. Acompanha o sorriso com um caloroso e aparentemente genuíno "Bom dia!", com que vai saudando os apressados automobilistas. Agradece, reconhecido, todas as moedas que lhe dispensam mas não faz depender dessa dádiva o modo simpático com que vai interagindo com os utilizadores do parque. Hoje, quando lá cheguei, já eram poucos os lugares disponíveis, pelo que a sua intervenção foi útil, indicando-me um lugar vazio. Quando saí do automóvel verifiquei que não tinha moedas comigo. Apercebendo-se disso, apressou-se a dizer "Não há problema, não se preocupe. Tenha um bom dia de trabalho!". E acrescentou: "Não se esqueça que amanhã há greve do Metro". Caramba! A EMEL não me trata assim.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Anestesias

E regressamos ao convívio da magnífica sra. Y, que desta vez fez questão de nos informar que nasceu a sua sobrinha, filha de sua irmã. O parto correu bem, tendo as respectivas dores sido minimizadas através da aplicação de uma inovadora "ipeidoral". Fica a dúvida sobre a eventual relação existente entre o nome e o local de aplicação... Mas a criança nasceu bem. É o que interessa.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Nexpress?

A senhora E adora dar nota da sua fluência multilinguística.
É o mais costumeiro "Face" (eu fui ao "Face" ressurge na sua conversa a cada 5 minutos, habitualmente como argumento de autoridade) e é ultimamente o "Nexpress".
Falamos de cafés, querendo a senhora E referir-se à muito requintada "Nespresso".
É com naturalidade que vejo os estrangeirismos aparecerem crescentemente na nossa linguagem de todos os dias. Mas quando usados com exagero e impropriedade pode soar pindérico.
Como acontece quando quem usa tem o "glamour" da senhora E.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

um Ferrari e um avião

Vítor, o carro com que andas agora é rápido?
Sim, é.
Mas é mesmo muito rápido? Ultrapassas os carros todos?
Bom, se passar um Ferrari por mim não consigo ir ultrapassá-lo. Ele passa por mim e vrrrum!, nunca mais o vejo.
O senhor M, com um daqueles sorrisos próprios dos grandes momentos, lá sentenciou: quando for grande vou ter um Ferrari... e um avião.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

há verdades que convém adequar a uma criança (sem deixarem por isso de ser verdade)

Ouvido a uma mãe, hoje, num café de Lisboa: a minha filha (que está no 1º ano do ensino básico, percebeu-se) perguntou esta manhã se a escola iria ser sempre assim, tão difícil. Respondi-lhe logo, olha, vai ser sempre cada vez mais difícil do que isto, o ano a seguir mais difícil que o actual.
Pergunta da interlocutora de circunstância, meio chocada com a veemência desta mãe: e como é que ela reagiu.
Ficou-se. Que remédio!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

contributo para a sociologia deste tempo

Com o ar grave das conversas importantes, num supermercado grande, um segurança diz ao outro: A cena é esta ó Luís, é por eu saber como é que eu sou que eu reajo assim às cenas, tás a ver, bué da calmo, numa naice.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Essa perigosa gente do circo

E é então que a senhora Y, preocupada com os recentes e trágicos acontecimentos do Charlie Hebdo mas com um ouvido pouco apurado para as subtilezas linguísticas e com algum delay em relação à realidade, resolve informar os seus colegas (3 dias após os factos), num misto de tom grave e aliviado: "Então lá apanharam aqueles franceses do Chapitô!".

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

... ou para nunca mais

O senhor M está imparável.
Ao ser admoestado por continuados fracos resultados na escola (reflectidos nas malfadadas bolinhas às cores com que os professores classificam diariamente comportamento e trabalhos na sala de aulas), o senhor M enfrentou a severidade de quem lhe ralhava com a tranquilidade moral que é própria dos injustiçados, disparou um "deixa lá isso para outro dia" rematando, já em semi-surdina "... ou para nunca mais".
Há um risco nestas histórias do senhor M, que os adultos se entretenham nas respostas hilariantes e esqueçam a seriedade dos episódios da vida deste pequeno cavalheiro. Mas é um fartote.